2011-05-14

ORIGEM KAINGANG

(ESSE TEXTO SOBRE A ORIGEM KAINGANG É FRUTO DE RELATOS ORAIS CONTADOS POR PROFESSORES E IDOSOS DA TERRA INDÍGENA XAPECÓ...)

POVO KAINGANG – ORIGEM E HISTÓRIA
Os kaingang são um povo indígena do Brasil meridional. Sua língua pertence à família linguística , do tronco macro-jê. Sua cultura desenvolveu-se à sombra dos pinheirais. Há pelo menos dois séculos, sua extensão territorial está nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná  e São Paulo, regiões estas que com o passar dos tempos e com o processo de pacificação e desenvolvimento agricola forçado que tiveram que passar foi reduzida, atualmente os Kaingang ocupam cerca de trinta e duas áreas reduzidas, distribuídas sobre seu antigo território, nesses estados meridionais brasileiros pois além de serem um dos cinco maiores povos indígenas do Brasil somam mais ou menos uma população aproximada de 30 mil pessoas.

1.      ORIGEM
Segundo contam os Kaingang mais velhos, quando Deus (Topẽ)  fez todas as coisa na terra, não fez nenhum ser igual e nem com conhecimento e habilidade superior, criou animais e vegetais de inumeras espécies, mas, todas essas criações tinham o mesmo comportamento e não obedeciam um ao outro, apenas lutavam pela comida e sobrevivência da especie, foi ai que Deus (Topẽ) viu que algo faltava para o mundo na terra ficar completo e começou a fazer outro tipo de ser vivente, depois de muito pensar criou o primeiro Kaingang quase no fim do dia e os animais o chamaram de Kamẽ pois estava sumindo o sol no horizonte e seus raios reprentavam linhas retas (retéj), mas ainda não ficou satisfeito pois como era noite o kamẽ não podia fazer nada pois seus olhos tinham sido abertos durante o dia e nada podia ver na escuridão da noite, uma vez que o sol era o seu protetor sendo a noite muito perigosa para Ele, assim Topẽ teve que criar outro Kaingang para caminhar durante a noite e dar proteção para o Kamẽ que sentia muito medo e sem direção alguma, foi assim que criou o outro Kaingang que logo foi adorado pelo animais da noite que o chamaram de Kanhru pois tinha sido criado na luz do luar, e sendo a lua de forma arredondada (reror).
Muito tempo se passou, os dois Kaingang criados por Topẽ deram nomes a todos os animais de vegetais que existiam na terra (Ga), mas não sabiam muita coisa, foi assim que cada um ensinou um grupo de animais para protege-lo durante o dia e durante a noite, havia nesse tempo muito respeito de ambas as partes tanto do Kamẽ com o Kanhru quanto do Kanhru para com o Kamẽ, cada um dos Kaingang foi criado em par um homem e uma mulher assim como os animais eram macho e fêmea, mas como os pares tinham sidos feitos juntos se olhavam como dois irmãos e não procriavam e já estavam ficando velhos e ao verem os animais com muitos filhos notaram que a procriação era necessária para preservar a espécie, um dia se encontraram e se deram em casamento o Kamẽ trocou sua irmã com o Kanhru para que o Kanhru tivesse filhos com ela e aumentasse o povo da noite e ficou com a irmã do Kanhru para aumentar o povo do dia, ficando assim desde esse dia decidido que Kamẽ só pode casar com Kanhru e Kanhru só pode casar com Kamẽ, pois se um dia houver um casamento de Kamẽ com Kamẽ a lua (kysã) que protege o Kanhru transformará todos os filhos desse casal em bicho (miso) e se um Kanhru casar com uma Kanhru o sol (rã) também transformará todos os filhos desse casal em bicho (miso), então não pode.
Até aí todos viviam sem fazer quase nada, apenas comiam, bebiam e dormiam, o Kamẽ de noite e o Kanhru de dia e suas vidas se tornaram muito tristes, então em uma grande assembléia, os animais viram que o kaingang precisava fazer alguma coisa para ser feliz, decidiram então que iriam ensinar todos a cantarem e dançar os ritmos da floresta, então cada animal mostrou seu tipo de canto e seu tipo de dança ao Kamẽ de dia e ao Kanhru de noite e até hoje os Kaingang dançam e cantam imitando os animais seus irmãos e protetores.
Um dia um Kanhru esqueceu de voltar para seu grupo durante a caminhada de noite e veio o dia e o sol nasceu, perdido e sem condições de voltar para casa caminhou e caminhou até morrer, perto de onde ele morreu um Kamẽ bricava com seus filhos e esposa, e ao ir buscar umas frutas encontrou o Kanhru morto, chamou seus filhos e esposa e o enterrou em um burraco para que nenhum animal o comece, ao anoitecer os Kanhru foram procurar seu irmão perdido mas não conseguiram encontrar em lugar nenhum, voltarm para seus lugares e quando o dia amanheceu o Kamẽ que tinha enterrado o Kanhru morto, voltou para ver se ele ainda estava lá, constatou que o corpo do Kanhru estava no mesmo lugar, foi então que ouviu uma vóz como de um pedido de soccorro dizendo que ele deveria cantar e dançar para o Topẽ e o Kysã com os animais para que seu espirito pudece descançar, voltou apressado e avisou todos os Kamẽ que se reuniram e decidiram que iriam fazer as danças e os cânticos para o parente morto, mas antes o mais velho do grupo disse que o Kamẽ portador da notícia deveria ficar perto do burraco que tinha enterrado o Kanhru até ao anoitecer e esperar os irmãos do morto para avisar do recado e do que tinha acontecido com ele, mas não estava acostumado com a noite e morreu antes que os kanhru passassem por ali, quando passaram viram o Kamẽ morto e fizeram o mesmo com ele, abriram um burraco e enterraram o Kamẽ, sua alma pediu que cantassem e dançassem para que pudesse descançar no mundo dos mortos, foi assim que o Kanhru dançou e cantou para o morto Kamẽ descançar e o Kamẽ cantou e dançou para o morto Kanhru descançar no mundo dos mortos, surgiu dessa forma o ritual do KIKI.
Com o surgimento do KIKI o povo Kaingang teve mais um motivo para ficar feliz, pois sabiam que agora tanto os vivos quanto os mortos poderiam vievr em paz, mais notaram que ainda estava faltando alguma coisa, e um dia quando veio uma grande tempestade  notarm que do céu desciam raios e trovões, e num dado momento um grande raio desceu do céu e atingiu um pinheiro seco (fág kyjo) e surgiu uma espécie de lavareda que comia com rapidez os galhos secos do pinheiro, ao chegar bem perto viram que aquilo aquecia o frio da chuva e eles se sentiam bem, pegaram um galho em chamas e levaram para sua morada e ajuntaram vários galhos de lenha para alimentar mais aquela criação de Topẽ, e assim descobriram o fogo que apartir de então também foi usado no ritual do KIKI e em quase todas as atividades desenvolvidas por eles.
Muito tempo se passou até que um dia a chuva começou e não parou mais, as matas e os animais coemeçaram a morrer e sumir no meio da grande enchente e os Kaingang começaram a sofrer e se preocupar com aquilo, pois não podiam fazer nada para parar com o acontecimento da natureza, caminharam muitos dias para fugir da furia da natureza até chegarem na mais alta montanha e entraram para dentro da terra, levando com eles uma muda de fogo para se aquecerem lá dentro até que parasse a chuva, muitos anos se passaram até que um dia o Kamẽ resolveu sair e o dia estava amanhecendo saindo ao lado do nescente do sol seu protetor, notou que as coisas tinham voltado ao normal ali fora, bem de tarde ao anoitecer o Kanhru notou que o Kamẽ não estava mais lá e também saiu  e viu que a lua iluminava a terra o que tudo estava normal. Foi assim que os Kaingang venceram o grande diluvio e guardaram o fogo que até hoje usam para se aquecer e dançar de dia e de noite nas suas festas e no KIKI.

(Getulio Tój`fã Kaingang)